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Victoria Paes

Empreendedorismo feminino e suas facetas

Atualizado: 11 de mar. de 2023

Hoje o Brasil é o sétimo país com maior número de mulheres empreendedoras, contudo, elas enfrentam desafios que excedem o viés empreendedor.

Empreendedorismo feminino é o nome atribuído ao movimento que envolve negócios fundados, pensados ou comandados por mulheres, incluindo empresas com liderança feminina e, muitas vezes, com mulheres ocupando os cargos mais altos em sua hierarquia. Tal cenário tem contribuído substancialmente para o empoderamento de mulheres, vez que, empreendedorismo feminino, vai além da definição usual de empreender, representa uma quebra de paradigmas quanto à capacidade de liderança das mulheres, que passam a liderar não só equipes, mas sua própria trajetória profissional e pessoal. Sendo, muitas vezes a única forma dessas mulheres conseguirem sua independência financeira, o que para algumas pode significar romperem relacionamentos abusivos, por exemplo. Segundo dados levantados pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizada com 49 nações, o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking de países com o maior número de mulheres empreendedoras. São mais de 24 milhões de brasileiras que tocam negócios próprios, movendo a economia e gerando empregos. O desemprego e a falta de renda, acarretados pela pandemia de COVID-19, estimularam 26% das brasileiras a iniciar seu negócio, resultando em um percentual de 77% de mulheres que se autodenominam parcialmente ou totalmente independentes financeiramente, de acordo com pesquisas da Rede Mulher Empreendedora (RME).

Por outro lado, a pesquisa organizada pela GEM, citada anteriormente, revelou que as mulheres empreendedoras estudam 16% a mais do que os homens: enquanto eles dedicam, em média, 8,5 anos à formação, elas investem 9,9 anos de suas vidas. E mesmo assim, elas ganham menos: o rendimento médio mensal das empresárias é 22% menor. Quando passamos para o mundo corporativo, conforme o estudo “Women in The Boardroom – Uma Perspectiva Global”, elas estão presentes em somente 16,9% dos assentos de conselhos de grandes empresas no planeta – número que no Brasil, cai para 8,6%. Para os homens, em geral, a principal motivação para abrir seu próprio negócio é a liberdade. Já para as mulheres, é necessário. Nesse antagonismo de propósitos, conseguimos notar o abismo que separam os dois gêneros no cenário empreendedor. Ingressar no mercado de trabalho como empreendedora é sinônimo de enfrentar inúmeros desafios, além dos habituais, enfrentados também pelos homens. Por exemplo, segundo uma pesquisa do Sebrae de 2019, as empreendedoras pagam taxas de juros maiores em comparação a empreendedores homens, mesmo que apresentem taxas de inadimplência menores. Os dados expõe que homens têm uma taxa de inadimplência de 4,2% e pagam, em média, 31,1% de juros ao ano, enquanto as mulheres têm que arcar com uma taxa de 34,6% de juros ao ano, mesmo que tenham uma taxa média de inadimplência de 3,7%. A divisão sexual do trabalho, como já é esperado, perpassa também o universo empreendedor, muito simploriamente falando, em que a mulher teria a sua importância no trabalho reprodutivo, enquanto o valor do homem está no trabalho produtivo, fomentando uma relação hierárquica. "Economicamente, homens e mulheres constituem como que duas castas; em igualdade de condições, os primeiros têm situações mais vantajosas, salários mais altos, maiores possibilidades de êxito do que suas concorrentes recém-chegadas. Ocupam, na indústria, na política etc., maior número de lugares e os postos mais importantes. Além dos poderes concretos que possuem, revestem-se de um prestígio cuja tradição a educação da criança mantém: o presente envolve o passado, e no passado toda a história foi feita pelos homens. No momento em que as mulheres começam a tomar parte na elaboração do mundo, esse mundo ainda é um mundo que pertence aos homens." Esse trecho foi retirado da obra "O segundo sexo", publicado em 1949, por Simone de Beauvoir, que defendia que as diferenças biológicas entre homens e mulheres não podem servir como justificativa para existir um "sexo frágil", como as mulheres têm sido vistas por séculos e não bastam para justificar a opressão historicamente praticada pelo Sujeito, o homem, em face do Outro, a mulher. Diante de tais reflexões, discutir e incentivar o empreendedorismo feminino é tão fundamental quanto questionar toda a construção social que sustenta essa disparidade de gênero, pois se não, os avanços, apesar de progressivos, serão sempre insuficientes.

 

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