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Victoria Paes

Mulheres e o Home Office

Por que mulheres experienciam o trabalho remoto diferente dos homens?

Segundo um alerta do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), organismo da ONU responsável por questões populacionais, a sobrecarga de trabalho para as mulheres durante a pandemia, apresentou-se de forma mais expressiva, intensificando a desigualdade de gênero. E, apesar da pandemia pertencer ao nosso passado recente, alguns resquícios permanecem, dentre eles, o modelo de trabalho remoto. No home office, a fronteira entre a vida no trabalho e a vida pessoal se dilui, dificultando a conciliação das diversas demandas. Ocorre que, de acordo com dados da PNAD Contínua 2018, mulheres não-ocupadas dedicavam 23,8 horas a atividades domésticas e de cuidado por semana, enquanto homens na mesma situação apenas dedicavam 12 horas.


A disparidade, porém, continua mesmo entre mulheres e homens ocupados: aquelas atuantes no mercado de trabalho ainda assim dedicavam 18,5 horas semanais às atividades reprodutivas, enquanto eles dedicavam apenas 10,3 horas.


Ou seja, trabalhando fora ou não, as mulheres costumam dedicar quase o dobro do tempo que os homens às responsabilidades de casa.


É inquestionável as vantagens que o estabelecimento do home office nos proporcionou, dentre elas a democratização do trabalho para a sociedade como um todo, mas não podemos deixar de discutir, sob uma perspectiva de gênero, a forma como esse modelo - que veio para ficar - evidenciou ainda mais, problemas estruturais, afinal, existe todo um universo de atividades acontecendo dentro do espaço privado que histórica e culturalmente é considerado responsabilidade das mulheres. "Eles abriram as portas das fábricas, dos escritórios, e agora podemos trabalhar como trabalhadoras baratas, mas tradicionalmente o casamento era a solução. A mulher tem de achar um homem que traga o salário para casa" A frase pertence a filósofa italiana Silvia Federici, para quem o trabalho doméstico está no centro da discussão sobre igualdade entre mulheres. A questão do trabalho doméstico é tão urgente hoje como era há 50 anos atrás, porque as mulheres agora não têm tempo. Elas trabalham o tempo todo, sobretudo se têm filhos, a carga de afazeres aumenta significativamente.


Mas como já dito, o problema, tal qual a solução, não está no modelo de trabalho em si, a discussão é muito mais extensa e complexa, perpassando por toda herança de um passado patriarcal que não está tão distante quanto imaginávamos (e gostaríamos).

 


Você pode conferir mais sobre esse assunto em: Um olhar para o gênero. UNFPA Brasil, março 2020. Disponível em: https://brazil.unfpa.org/pt-br/publications/um-olhar-para-g%C3%AAnero. Acesso em: 7 de fev. 2023. ROSA, Thais. Home office, pandemia e a divisão sexual do trabalho. Fundo Brasil. Disponível em: https://www.fundobrasil.org.br/blog/home-office-pandemia-e-a-divisao-sexual-do-trabalho/. Acesso em: 7 de fev. 2023. O que eles chamam de amor, nós chamamos de trabalho não pago, diz Silvia Federici. Portal Geledés, 14 de dez. 2019. Disponível em: https://www.geledes.org.br/o-que-eles-chamam-de-amor-nos-chamamos-de-trabalho-nao-pago-diz-silvia-federici/. Acesso em: 7 de fev. 2023.

 

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